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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O pau duro da mulher

“Já que os homens são seus paus, conforme já foi dito, e em paus não se pode confiar. Paus não obedecem nem a seus donos. Pelo contrário: o que vemos são donos obedecendo a seus paus”
Para aqueles que não entenderam a foto, trata-se de um pescoço..

Recentemente li o novo livro da Fernanda Young, O pau. Logo que fiquei sabendo de sua existência, fiquei louca para ler. A vontade cresceu mais ainda depois que eu fiquei sabendo que ela era roteirista de programas como "A comédia da vida privada" e "Os normais". Além disso, a história parecia interessante e ainda poderia me render um post para esse blog.

O livro conta a história de Adriana, uma designer de jóias de sucesso, mas que não teve tanta sorte assim no amor. Depois de sofrer um aborto involuntário, ela se envolve com belo - e burro - ator de quinta. E mais novo que ela (o que era um problema para Adriana...)

A princípio, ela tenta lutar contra a relação, já que, além da diferença de idade, a disparidade intelectual entre os dois era gritante. Como ela, uma mulher culta e independente, chegando aos 40, poderia se envolver com alguém de 24 anos? E que usa blusas dois tamanhos menores, só para parecer mais forte? E que usa mais cremes que ela? E que nunca leu Nietzsche?

"A designer sente-se angustiada em estar com alguém que se preocupa mais em ir para a academia ou se besuntar de cremes do que ir ao cinema ou teatro. Mas ela está apaixonadinha e vai relevando, aquilo que para ela não tem remédio. Gentil, mas não da forma como ela precisa que seja. 'Amor não tem nada a ver com pau, nem pau tem nada a ver com amor. Dificilmente, só mesmo por coincidência, acontece de pau e amor concordarem sob algum aspecto. Então, tiremos o amor da questão', reflete ela, em um determinado momento."

Indo contra seus valores, Adriana decide apostar na relação e é bastante generosa com o jovem : indica filmes, livros, o leva à Paris - tudo pago por ela -, lhe dá dicas de como se vestir e se portar melhor... Enfim: melhora o homem para que ele a troque por outra depois.

"Estava até disposta a ajudá-lo, desta vez. Comprou vários DVD’s para assistir com ele, desde filmes clássicos a documentários. Emprestou livros para ele ler, fazendo uma seleção das obras mais fundamentais. Foi com ele a algumas boas peças, Shakespeare, Pinter. Passou a palpitar nas roupas dele (…) E se esmerou que ele tirasse as lições que tinha de tirar de tudo isso."

O namoro segue mais ou menos, até que em uma noite, enquanto o bonitão dorme e ronca pesado na cama - depois do sexo -, o celular dele toca. Adriana tenta resistir ao impulso de olhar (ela jurou a si mesma que jamais faria coisas desse tipo) mas acaba cedendo. No IPhone uma mensagem em branco, do remetente "sem número". Minutos depois, outra mensagem, também em branco e do mesmo remetente. Intrigada com aquilo, Adriana não resiste ao impulso e resolve escrever de volta. A resposta, porém, não era bem o que ela esperava. “VOCÊ PODE ME LIGAR? SÓ QUERIA CONVERSAR. ESTÁ COM A VELHOTA?” Adriana lê tudo isso, assim, em caixa alta. A sensação que tem é que lhe enfiaram um supositório de cocaína, nas palavras da personagem, tamanha é a corrente elétrica estranha que percorre seu corpo.

De repente, Adriana se descobre traída. O que fazer? Se vingar, é claro, pois como diz Adriana, "a vingança é o pau duro da mulher". Que vingança é essa e o que acontece eu não posso contar. Posso no máximo emprestar o livro para quem quiser (e me devolver depois!).

O pau é uma daquelas obras que podem ser consumidas em poucas horas, mas que nem por isso vale menos a pena. Fernanda utiliza uma linguagem deliciosa, daquelas que te envolvem durante a leitura. Além disso, o livro é bem humorado e irônico, bem à la Fernanda Young.


Outro aspecto que eu considero muito positivo é o fato que de as situações vividas pela protagonista são corriqueiras e poderiam acontecer com qualquer pessoa. Mais que isso: a maneira como Fernanda escreve aproxima esses fatos das pessoas comuns - com seus descontroles, dúvidas e palavrões. É fácil se identificar com Adriana - seja você homem ou mulher.

Queria escrever mais sobre coisas específicas que gostei muito no livro, mas ele está emprestado... Mas acho que já deu pra sentir um gostinho né?

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