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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Entre quatro paredes

@Normalucia.69 - depois de umas semanas sumida do blog - sabe como é a vida de final de semestre, final de curso, dia dos namorados... - ela está de volta. Madame Bovary traz outra sugestão para os amantes da literatura e dos assuntos picantes.

De espartilhos e muito, muito, pano até mini saias e biquínis em profusão. As noções de sexualidade e intimidade mudaram drasticamente aqui, em terras antes tupiniquins. Mary del Priore traça essa linha do tempo em “Histórias íntimas – sexualidade e erotismo na história do Brasil”. 



“Ao desembarcar na então chamada Terra de Santa Cruz, os recém-chegados portugueses se impressionaram com a beleza de nossas índias: pardas, bem dispostas, “suas vergonhas tão nuas e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha alguma”. A Pero Vaz de Caminha não passaram despercebidas as “moças bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos compridos pelas espáduas”. Os corpos, segundo ele, “limpos e tão gordos e tão formosos que não pode mais ser”. Os cânones da beleza européia se transferiam para cá, no olhar guloso dos primeiros colonizadores.” (p. 15 e 16)

Aqui eu abro um parênteses: (tem uma poesia do modernista Oswald de Andrade que faz uma paródia com a carta de Caminha, ironizando e brincando com a noção de sexualidade e intimidade do português.

As meninas da gare
Eram três ou quatro moças
bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha

Nem fugi tanto do assunto, já que o poema traz um pouco essa comparação entre a visão da sexualidade num Brasil de antes e um Brasil de agora)

“E, contrariamente aos nossos dias, não havia lugar do corpo feminino menos erótico ou atrativo do que os seios. As chamadas “tetas”, descritas nos tratados médicos como membros esponjosos próximos ao coração, tinham uma só função: produzir alimento.” (p. 18)

Mary del Priore vai contando casos, com humor e leveza.  Ela fala das casas com portas que não se trancam, já que chave era artigo de luxo; da igreja como o lugar mais seguro para se cometer pecados sem ser descobertos; e até da vida sexual do mulherendo D. Pedro I. Mas o rei é prova de mesmo os mais safadinhos podem cair de amores. Cartas com Domitila de Castro e Canto Melo, a Marquesa de Santos, mostram que D. Pedro estava loucamente apaixonado (o que não o impediu de ter 16 amantes concomitantes a Domitila).

"Nada mais digo senão que sou teu, e do mesmo modo quer esteja no céu, no inferno ou não sei onde. Tu existes e existirás sempre em minha lembrança, e não passa um momento que meu coração me não doa de saudades tuas...”

As cartas também provam que a intimidade dos dois era bem caliente. D. Pedro I assina várias cartas comoFogo Foguinho” e até “Demonão”.

“Forte gosto foi o de ontem à noite que nós tivemos. Ainda me parece que estou na obra. Que prazer!! Que consolação!!! […] Aceite os mais puros e sinceros votos de amor do coração deste seu amante constante e verdadeiro e que se derrete de gosto quando... com mecê,”

É, pelo jeito não foi pelo estômago que ela o conquistou.

Para saber mais sobre “Histórias íntimas – sexualidade e erotismo na história do Brasil”, de Mary del Priore, clique aqui.

Jogo rápido: Mary del Priore
Historiadora, ex-professora da USP e PUC-RJ. Fez pós-doutorado em Paris (chiquetérrima). Mais de 29 livros publicados (por exemplo, História das mulheres no Brasil, Festas e utopias no Brasil colonial e História das crianças no Brasil)

Entrevista que concedeu a Jô Soares sobre seu livro “Histórias íntimas – sexualidade e erotismo na história do Brasil”.



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