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sábado, 25 de junho de 2011

Marcha das vagabundas

Uma manifestação que ganhou o mundo e mais recentemente algumas capitais do Brasil, chegou às ruas de Belo Horizonte. A Marcha das Vagabundas  - ou Slut Walk, como é originalmente chamada – aconteceu no último sábado, dia 18 de junho.

Mulheres usando lingeries e roupas provocantes protestaram pelo direito de exercer sua sexualidade como bem entenderem, sem que sejam taxadas de vadias ou putas. Além da marcha das Vagabundas, os protestos reuniram outros movimentos, como a Marcha da Liberdade. “A manifestação em BH foi muito linda, porque ela não foi uma manifestação somente para mulheres ela foi uma manifestação por direitos humanos, por liberdade, por democracia, por direito de moradia e de ocupação dos espaços públicos”, diz a estudante de arquitetura Ettyenne Maia, que participou dos prostestos.

Em BH, os protestos também foram marcados por forte repressão da polícia, como explica Ettyenne Maia. Segundo ela, o motivo da agressão teria sido uma suposta tentativa de invasão ao prédio da prefeitura, o que não teria acontecido. "O que houve foi que alguns manifestantes subiram no hall de entrada do prédio onde começaram a ser empurrados pela guarda municipal e PM. Nós começamos a vaiar e a reação deles foi de jogar sprei de pimenta e gás".



Vadia sim, com muito orgulho

Marcha das vagabundas em BH


Slut Walk em Toronto
O Slut Walk tem suas origens na cidade de Toronto, Canadá, e já aconteceu em países como Argentina, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Holanda e Nova Zelândia. Tudo começou após declarações de um policial canadense que teria sugerido que as universitárias deveriam se vestir de outra maneira, a fim de evitar abusos sexuais. A culpa do estupro não seria daquele que o pratica, mas das mulheres que, ao usaram roupas inadequadas, estariam provocando e justificando o comportamento abusivo. Ou seja, o homem é um pobre animal que não consegue conter seus instintos diante de uma saia curta, por isso, não o provoque.  “Nosso lema no protesto é o de que o corpo de uma mulher é somente dela e este não tem que ser violado por nenhum homem”, afirma Etienne Maia.


No Brasil a Marcha também é uma reação às declarações do comediante Rafinha Bastos. O humorista teria dito: "Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço". Quando li isso fiquei pensando se o humor está tão saturado e sem criatividade que precisamos insistir em piadas machistas como essa. 

Para o físico Fernando Almeida o protesto foi exagerado. “Acho que as pessoas estão banalizando a liberdade de expressão. Se for assim, vou organizar então uma Marcha dos Machos Comedores. Claro que esses comentários como o do Rafinha Bostas são desnecessários e merecem um processo. Mas não acho que precisa fazer uma coisa nesse nível, se vestir desse jeito ou usar um cartaz com escrito ‘sou vadia!’”, diz.

Boa pra pegar, mas não serve pra casar
Geyse Arruda e o famoso vestido
 No país do carnaval ainda reina a dicotomia puta versus santa. Vivemos em uma cultura que estimula a exibição dos corpos femininos, mas que na prática, despreza aquelas que ousam a fazê-lo. Mulheres que usam roupas decotadas são taxadas de vadias, como se o caráter de uma pessoa estivesse associado àquilo que ela veste. Quem não se lembra do caso Geyse Arruda, a estudante da Uniban que causou tumulto e foi insultada por vários colegas ao usar um vestido curto? Quantas vezes já não ouvi amigos dizerem que “fulana serve para comer, mas não presta para namorar”, ou “ciclana dá pra todo mundo, não presta”.

Indo um pouco mais longe, me lembro do caso Ângela Diniz, uma socialite mineira que foi morta por seu companheiro, Raul Fernando do Amaral Street ou Doca Street, como era mais conhecido. O caso aconteceu na década de 70 e na época, Ângela foi considerada a causadora de seu próprio assassinato. A vitima mereceu ser morta devido a sua má conduta: uma mulher divorciada, que teve vários amantes, adorava festas e roupas bonitas. Durante o julgamento, havia até mesmo mulheres na porta que torciam por Doca e lhe enviavam cartas apaixonadas. Ele chegou a ser absolvido, sendo condenado somente após dois julgamentos.

Infelizmente ainda vivemos aquela mesma velha história, de controle da sexualidade feminina. O homem pegador é o macho alfa e a mulher que não se encaixa nos padrões - de vestimenta e de comportamento - é a puta.

Achei um texto muito bom da Marjorie Rodrigues sobre a Marcha das Vagabundas. E você, o que acha do movimento?

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