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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os infiéis

É engraçado como alguns assuntos insistem em aparecer de vez em quando, até parecem crianças tentando chamar a minha atenção. Há umas semanas, assisti o Les Infidèles (Os Infiéis) e como o próprio nome já diz, é um filme que fala sobre traição, mais especificamente, a masculina. Dias depois topei com um apaixonado (acho que ele ainda não se deu conta disso) que se culpava por ter dado uns pegas mais calientes em uma menina e ficando sério com outra. Isso sem contar outros casos de traição que surgiram no meio do caminho. Nessa altura, já tinha certeza que devia fazer um post sobre o tema, discutindo um pouco sobre o conceito de traição.



Por mais óbvio que possa parecer, as pessoas tem conceitos muito distintos do que é considerado traição. O mais comum é aquele que considera o ato consumado, ou seja, quando uma das partes se envolve fisicamente com uma terceira pessoa, sem o consentimento e conhecimento de seu companheiro. Mas já vi questionamentos do tipo, “Pensar em outra é traição?”, “Se masturbar com revistas masculinas, é traição?”, "Se foi algo meramemente físico, sem sentimento, é traição?". Do pensamento mais neurótico e possessivo ao mais liberal, existem diversas formas de pensar sobre isso.

Mas a conversa mais interessante veio em outra ocasião, quando trocava ideia com um amigo. Ele me lembra aquele menino do quadro do Castelo Rá-tim-bum, sempre buscando o porquê das coisas. E nesse dia ele questionava o motivo pelo qual pessoas comprometidas não podiam se envolver com outras.  É importante perceber que a pergunta dele não foi "Por que pessoas comprometidas não podem trair" e foi essa sutileza que me fez ficar pensando.

O dicionário traz vários significados para o verbo trair: "Ser infiel no amor", "Enganar", "Não corresponder a", entre outros. A pergunta do meu amigo não usou a palavra traição porque, do ponto de vista dele, o envolvimento com outra pessoa, mesmo estando comprometido, não necessariamente resultaria no que diz o pai dos burros.

Por que monogamia?
Diversos estudos já apontaram que a natureza do ser humano não é biologicamente programada para ser monogamica (o termo é muito usado para designar uniões como o casamento, mas aqui uso também pro namoro e outros relacionamentos mais sérios). O desejo por terceiros sempre irá existir - e isso para ambas as partes, homems e mulheres, de forma igual.

Um post muito interessante da Marina Terin, no Papo de Homem, traz várias reflexões de como a monogamia está ligada a aspectos econômicos. Resumindo bastante o pensamento dos autores apresentados, o relacionamento monogamico reduziria a procriação desenfreada e a quantidade de filhos nos mundo. Com menos crianças, os pais poderiam lhes fornecer mais recursos, aumentando a probabilidade de sucesso de sua estirpe, além de não gerar bastardos e concentrar a riqueza nas mãos de uma mesma família.

Estreitamente alinhada a questão econômica, a monogamia também foi adotada como um instrumento que garantia os direitos de propriedade e o controle da sexualidade feminina (se pensarmos até hoje é "aceitável" que um homem seja infiél, afinal faz parte de sua sua natureza). De acordo com estudo de Engels (citado por Natalia Pietra Méndez, no artigo "Monogamia e Heterossexualidade: Um breve apanhado histórico sob a ótica de gênero"), o patriaca tinha como função determinar a organização e a continuidade da propriedade privada na mesma linhagem. A forma encontrada foi a certeza da paternidade - ou seja, garantindo que a mulher não tenha relações com vários homens.

Teorias a parte
Várias outros autores e correntes de pensamento poderiam explicar e mostrar as origens da monogamia como uma construção cultural e histórica que favoreceu relações ecônomicas, políticas e de gênero. Mas e quanto aos sentimentos? O amor, os ciúmes, o medo de perder aquele de quem gostamos? Sentir isso tambem é legítimo - afinal, não é também essa capacidade que diferencia o homem dos outros animais?

É difícil chegar a uma conclusão - mesmo depois de pensar bastante na questão e de fazer um dos posts mais longos da história desse blog. Mas pra mim é claro que fidelidade e amor não são sinônimos de falta de desejo por outras pessoas e por outras experiências. Também acho que uma pessoa não deve "impedir" a outra de fazer aquilo que quer, de reprimir suas vontades. Levar isso na prática, no entanto, é outra história.

Mas, se o mais importante em um relacionamento é ser feliz e fazer o outro feliz. Se isso acontece, que mais importa?




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