“Visitadoras”. É esse nome mais recatado que Mário Vargas Llosa usa para designar as prostitutas em Pantaleão e as visitadoras. “Visitadores” é como Norma Lúcia, a dona desse blog, denomina quem quer que passe por aqui. E devido a esse grande “acaso”, o livro de Vargas Llosa é o assunto da coluna dessa semana.
Bom marido, filho exemplar e militar competente, Pantaleão Pantoja recebe uma missão.
“— Bem, vamos aos fatos — sela os lábios com um dedo o general Victoria. — Este assunto exige a mais absoluta reserva. Falo da missão que vamos lhe confiar, capitão. Solte os bichos, Tigre.
— Em poucas palavras, a tropa da selva está comendo as cholas — toma fôlego, pisca, tosse o Tigre Collazos. — Há estupros a granel e os tribunais já nem conseguem julgar tanto safado. Toda a Amazônia está em alvoroço.” (p.13)
Ele é escalado para implantar um serviço de prostitutas em Iquitos - cidade localizada na selva amazônica peruana - para aplacar a libido dos militares e acabar com os estupros. E, detalhe importante, ninguém deve saber. Nem mesmo a esposa ou a mãe de Pantaleão. Entretanto, a eficiência do capitão, transforma um serviço que se pretendia ser paliativo em um mega empreendimento.
Com muito humor, Llosa critica a hipocrisia, a corrupção e o fanatismo. E isso por meio de uma narrativa ágil e dinâmica. Cartas pessoais, notícias de jornais e de rádio se misturam aos diálogos. Outra técnica utilizada: duas ou mais cenas acontecem ao mesmo tempo e vão se alternando por meio de diálogos.
— Boldéis e meninas? — pisca um olho, faz uma reverência, aperta-lhe a mão o China Porfirio. — Sem dúvida, senhol. Com plazel em dois minutos lhe dou um panolama. Vai lhe costal apenas uma celvejinha, balato, não é?
— Muito prazer — indica que se sente no banquinho ao lado Pantaleão Pantoja. — Sim, é claro, uma cerveja. Não vá imaginar coisas, eu não tenho um interesse pessoal nessa história, é só técnico.
— Técnico? — se espanta o garçom. — Espero que não seja um informante, senhor. p. 27
Ele é o último Nobel de Literatura. Não deve gostar muito do nome Jorge, já que assina só como Mário. Nasceu em Arequipa, no Peru, em 1936. Cursou Direito e Letras. A partir da década de 80, participou ativamente da política, chegando até a concorrer à presidência da República em 1990. Pantaleão e as visitadoras foi escrito em 1973.
2 comentários:
Vargas Llosa está na moda agora...mais do que merecido! excelente autor. ah, excelente também esse post!
Não li esse livro específico dele, li um outro, "A festa do bode". Muito bom, mega bem escrito, apesar de ser um livro pesado (fala sobre a ditadura na Republica Dominicana e sendo assim tem muita coisa sobre torturas...). Mas realmente, ele é um ótimo autor!
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