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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Quanto mais clara melhor

É engraçado como cada cultura tem o seu padrão de beleza. Nós brasileiros, por exemplo, temos muito forte essa coisa do corpo sarado. Não havia notado isso antes; comecei a perceber quando morei na França e não percebi essa preocupação frenética com as formas do corpo e muito menos esse boom de academias que temos por aqui. Lá, a prática do esporte está muito mais ligada a uma questão de saúde (me lembro bem de um anúncio na porta de um ônibus que recomendava às pessoas descerem antes de seu ponto, caminhar é um hábito saudável). 

No Ocidente, de forma geral, nosso ideal de beleza está ligado ao não envelhecimento e podemos perceber isso facilmente pelos discursos, pela quantidade de produtos antiidade que temos disponíveis no mercado e pela facilidade com que as pessoas se submetem a cirurgia plástica para ganhar alguns aninhos a mais.

Todo esse preambulo foi para falar do ideal de beleza asiático, que está ligado cor da pele que, quanto mais clara melhor. Inclusive, parece que isso é algo bastante arraigado na cultura da Índia, onde a indústria de cosméticos há alguns anos invadiu o país para comercializar produtos de clareamento cutâneo. Em 2007, por exemplo, metade dos cremes comercializados por ali era destinado ao clareamento. 

Outro indicador da força desse conceito é que nos cadernos de matrimônio dos jornais de domingo - uma espécie de classificados" de mulheres nos jornais indianos, anunciadas por suas famílias - o atributo positivo "fair skin" é utilizado para denominar a pele clara. 


Até mesmo a famosa Bollywood tem colaborado para a difusão desse padrão de beleza. As estrelas tem um tom de pele cada vez mais claro, conseguido com tratamentos e até mesmo com a ajuda de programas de computador. Algumas atrizes, inclusive, defendem o uso desses produtos e a indústria cosmética se beneficia disso. A Unilever, por exemplo, estrelou uma campanha com dois astros do cinema indiano. A propaganda, feita em vários episódios, conta como uma mulher reconquistou seu amor após realizar o clareamento.


Além da Índia, Coréia, Japão, China, Tailândia e Malásia são outros adeptos da "beleza pálida". 


Sabonete que clareia a genitália

Os anúncios utilizados por essas empresas já causaram polêmica. "Você pensa duas vezes antes de usar certos tipos de roupa porque elas não combinam com os diferentes tons em sua pele?" ou "Você percebe como a cor das suas mãos é diferente da cor do seu rosto?", são algumas das frases encontradas nas publicidades. Além disso, as propagandas também associam associam sucesso na vida profissional e pessoal à cor da pele. 

Mais recentemente outro produto similar voltou a causar alvoroço entre os críticos desse tipo de conduta. Agora não basta ter apenas a pele dos rostos e das mãos mais clara; é preciso também que as partes íntimas também sejam brancas. É o que sugere uma marca de cosmético no comercial abaixo: 


A mulher, até então ignorada pelo marido, passa a ser valorizada depois de utilizar o produto e ter sua região genital clareada.
Ao que parece, a propaganda recebeu muitas críticas na mídia indiana e até mesmo o governo do país reagiu, pedindo formalmente a agência de regulação publicitária que retirasse o publicidade do ar. 


Todas queremos nos sentir bonitas e acho que é valido que cada um faça o que acha certo para se sentir bem consigo mesma, sejam cirurgias plásticas, seja clarear a pele. O que não concordo é construir ideias de beleza que se fundem em certos e errados e que associem sucesso na vida ao ajuste das pessoas a esses parâmetros, fazendo com que aqueles não se encaixem neles se sintam mal e diminuídos por conta disso. 

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